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Thiago Lages de Alencar

Imagem mostrando camada do App, OS e Hardwares

Quando você quer ler o arquivo, você pede ao sistema operacional pelo conteúdo do arquivo.

Quando você quer escrever no arquivo, você pede ao sistema operacional para inserir o conteúdo no arquivo.

É importante saber que o sistema operacional toma diversos cuidados para que desenvolvedores não acessem diretamente o hardware, ou seja, por baixo dos panos você está pedindo para o sistema operacional ler/escrever.

  • C
    • fgets()
    • fwrite()
  • Python
    • file.read()
    • file.write()
  • Rust
    • file.read_to_string()
    • file.write_all()
  • Go
    • os.ReadFile()
    • os.WriteFile()

Veremos como garantir a segurança de um arquivo quando se tem múltiplos processos querendo altera-lo.

Process

A função utilizada para se criar processos é fork(), está função faz com que o atual processo crie um processo filho quase idêntico e executando o mesmo código que o pai.

Olhe este código que printa duas vezes "Hi":

#include <stdio.h>
#include <unistd.h>

int main() {
fork();
printf("Hi\n");
}

Se você executa-lo irá notar que o filho é tão igual ao pai que ele continua exatamente do mesmo local que o pai se encontrava (logo após fork() retornar um valor). Se tivessemos variáveis, poderiamos ver que até o valor delas são idênticos ao do pai.

No entanto, precisamos de uma maneira de reconhecer quem é o pai e filho, caso contrário este código executária exatamente a mesma coisa para ambos (não seria nada produtivo). Acontece que a função fork() retorna um valor e este valor é utilizado para sabermos se estamos no pai ou no filho.

#include <stdio.h>
#include <unistd.h>

int main() {
int pid = fork();

if (pid == -1) {
printf("Failed to create child process\n");
} else if (pid == 0) {
printf("I'm the child process\n");
} else {
printf("I'm the parent process\n");
}
}

A função fork() vai retornar ao pai o PID do filho (ou -1 em caso de error).
A função fork() vai retornar ao filho zero.

tip

Normalmente o código do pai e filho são inseridos em funções em vez de deixar tudo dentro de um if/else.

if(pid == 0) {
child_code();
} else {
parent_code();
}

Ou se utiliza funções exec para transformar completamente o código executado naquele processo.

Problem

Imagem ilustrativa do app 1 lendo do arquivo, app 2 lendo do arquivo, app 1 escrevendo no arquivo, app 2 escrevendo no arquivo

Quando dois processos interagem com o mesmo arquivo, pode acontecer da informação ser preenchida incorretamente? Afinal, precisamos primeiramente descobrir se isso é possível ou não de acontecer.

Como o escalonamento pode ser imprevisivel, uma maneira de testar se durante a interação com um arquivo houve troca de processo é repetindo a ação diversas vezes e ver se pelo menos uma vez ocorreu.

O seguinte código irá ser executado para o processo pai e filho:

int count = 0;
FILE* file = fopen("example.txt", "w+");

while(count < 10000) {
int i;

fseek(file, 0, SEEK_SET);
fscanf(file, "%d", &i);
fseek(file, 0, SEEK_SET);
fprintf(file, "%d ", ++i);

count++;
}

fclose(file);

O código irá garantir que o cursor está no início do arquivo, ler o atual número do arquivo, mover o cursor para o início do arquivo e sobreescrever o número.

note
fprintf(file, "%d     ", ++i);

Por que inserir espaço após o número? Foi uma maneira de evitar que o número de ambos processos se misturem.

Por exemplo: Processo 1 escreve 5000 e processo 2 escreve 9, o arquivo irá conter "9000" pois o 9 foi escrito em cima do 5.

Agora só precisamos adicionar a lógica de criar processo vista anteriormente:

#include <stdio.h>
#include <unistd.h>

void code() {
int count = 0;
FILE* file = fopen("example.txt", "w+");

while(count < 10000) {
int i;

fseek(file, 0, SEEK_SET);
fscanf(file, "%d", &i);
fseek(file, 0, SEEK_SET);
fprintf(file, "%d ", ++i);

count++;
}

fclose(file);
}

int main() {
FILE* file = fopen("example.txt", "w");
fputc('0', file);
fclose(file);

int pid = fork();

if (pid == -1) {
printf("Failed to create child process\n");
} else if (pid == 0) {
code();
printf("Child finished\n");
} else {
code();
printf("Parent finished\n");
}
}

Quando executei este código para 10 iterações, o valor final do arquivo foi 20.
Quando executei este código para 1000 iterações, o valor final do arquivo foi 1000.
Quando executei este código para 10000 iterações, o valor final do arquivo foi 10015.

O que somos capaz de deduzir com isto?

  • O resultado é imprevisível pois não temos controle de quando o escalonador vai trocar os processos
  • Dependendo do volume de iterações e da máquina do usuário, um processo pode ou não conseguir fazer a tarefa antes do escalonador trocar o processo
  • Se houver troca durante uma tarefa, pode corromper o resultado do arquivo

Quais as chances disto acontecer? Depende do software, pois existem arquivos que a chance de dois softwares interagirem ao mesmo tempo é 0%.

Locks

Acontece que existe mais de uma maneira de aplicar locks no Linux.

Uma pessoa bem surpresa

  • flock
    • file lock
    • Origem do sistema operacional BSD
  • lockf
    • lock file
    • POSIX
    • É uma versão simplificada do fcntl "Advisory record locking"
  • fcntl "Advisory record locking"
    • file control
    • POSIX
    • Uma função capaz de fazer diversas operações sobre file descriptors
      • Uma delas é utilizar "Advisory record locking"
  • fcntl "Open file description locks (non-POSIX)"
    • file control
    • Linux specific
      • Existem propostas para ser adicionado ao padrões POSIX
    • Uma função capaz de fazer diversas operações sobre file descriptors
      • Uma delas é utilizar "Open file description locks (non-POSIX)"

Se quiser saber mais sobre cada um, é bom ler o post no blog: https://gavv.net/articles/file-locks/
Incrivel como um blog de 8 anos atrás me ajudou mais do que pesquisas no Google.

flock

#include <stdio.h>
#include <stdlib.h>
#include <string.h>
#include <sys/file.h>
#include <unistd.h>

#define BUFFER_SIZE 256

void code() {
int count = 0;
char *buffer = malloc(sizeof(char) * BUFFER_SIZE);
int fd = open("example.txt", O_RDWR);

while (count < 10000) {
int i;

flock(fd, LOCK_EX);
lseek(fd, 0, SEEK_SET);
read(fd, buffer, BUFFER_SIZE);
i = atoi(buffer) + 1;
sprintf(buffer, "%d ", i);
lseek(fd, 0, SEEK_SET);
write(fd, buffer, strlen(buffer));
flock(fd, LOCK_UN);

count++;
}

close(fd);
}

int main() {
FILE *file = fopen("example.txt", "w");
fputc('0', file);
fclose(file);

int pid = fork();

if (pid == -1) {
printf("Failed to create child process\n");
} else if (pid == 0) {
code();
printf("Child finished\n");
} else {
code();
printf("Parent finished\n");
}
}

lockf

#include <fcntl.h>
#include <stdio.h>
#include <stdlib.h>
#include <string.h>
#include <unistd.h>

#define BUFFER_SIZE 256

void code() {
int count = 0;
char *buffer = malloc(sizeof(char) * BUFFER_SIZE);
int fd = open("example.txt", O_RDWR);

while (count < 10000) {
int i;

lockf(fd, F_LOCK, 0);
lseek(fd, 0, SEEK_SET);
read(fd, buffer, BUFFER_SIZE);
i = atoi(buffer) + 1;
sprintf(buffer, "%d ", i);
lseek(fd, 0, SEEK_SET);
write(fd, buffer, strlen(buffer));
lockf(fd, F_ULOCK, 0);

count++;
}

close(fd);
}

int main() {
FILE *file = fopen("example.txt", "w");
fputc('0', file);
fclose(file);

int pid = fork();

if (pid == -1) {
printf("Failed to create child process\n");
} else if (pid == 0) {
code();
printf("Child finished\n");
} else {
code();
printf("Parent finished\n");
}
}

fcntl - "Advisory record locking"

#include <fcntl.h>
#include <stdio.h>
#include <stdlib.h>
#include <string.h>
#include <unistd.h>

#define BUFFER_SIZE 256

void code() {
int count = 0;
struct flock fl;
char *buffer = malloc(sizeof(char) * BUFFER_SIZE);
int fd = open("example.txt", O_RDWR);

fl.l_whence = SEEK_SET;
fl.l_start = 0;
fl.l_len = 0;

while (count < 10000) {
int i;

fl.l_type = F_WRLCK;
fcntl(fd, F_SETLKW, &fl);
lseek(fd, 0, SEEK_SET);
read(fd, buffer, BUFFER_SIZE);
i = atoi(buffer) + 1;
sprintf(buffer, "%d ", i);
lseek(fd, 0, SEEK_SET);
write(fd, buffer, strlen(buffer));
fl.l_type = F_UNLCK;
fcntl(fd, F_SETLKW, &fl);

count++;
}

close(fd);
}

int main() {
FILE *file = fopen("example.txt", "w");
fputc('0', file);
fclose(file);

int pid = fork();

if (pid == -1) {
printf("Failed to create child process\n");
} else if (pid == 0) {
code();
printf("Child finished\n");
} else {
code();
printf("Parent finished\n");
}
}

References

Extra

Por diversão, eu experimentei replicar o mesmo problema em outras linguagens.

package main

import (
"fmt"
"os"
"os/exec"
)

func code() {
var count int = 0
file, _ := os.OpenFile("example.txt", os.O_RDWR, 0666)

for count < 10000 {
var i int

file.Seek(0, 0)
fmt.Fscanf(file, "%d", &i)
file.Seek(0, 0)
fmt.Fprintf(file, "%d ", i+1)

count++
}

file.Close()
}

func main() {
if len(os.Args) >= 2 {
code()
fmt.Println("Child finished")
} else {
os.WriteFile("example.txt", []byte{'0'}, 0600)

command := exec.Command("/usr/bin/go", "run", "main.go", "fork")
command.Start()
code()
command.Wait()

fmt.Println("Parent finished")
}
}